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Supermax (Resenha)

Postado originalmente no Cultura Nerd e Geek, em 18/12/2016

Quando a maior emissora do país inicia um reality show com um prêmio de R$ 2 milhões, é natural que as pessoas queiram participar. Mesmo que ele se passe em um presídio de segurança máxima no meio da floresta amazônica. Ou que, para participar, você tenha que ser um criminoso, que terá seu delito divulgado em rede nacional. Mas o que ninguém espera é ficar preso no meio do nada, sem suprimentos ou comunicação com o mundo exterior, enquanto uma força misteriosa te apavora e os segredos do presídio colocam sua vida em risco.

Supermax (2016) é uma minissérie de terror produzida pela Rede Globo e dirigida por José Alvarenga Jr., na primeira tentativa da emissora em se adequar à popularização das séries feita pelo Netflix e ao mercado on demand. Conta com um grande elenco encabeçado por Mariana Ximenes (Bruna) e Cléo Pires (Sabrina) e outros dez atores vindos do teatro e do cinema.

A série trabalha com a desconstrução do familiar, pegando uma premissa conhecidíssima do espectador brasileiro, o reality show de confinamento – com direito ao Bial interpretando ele mesmo – e 12 participantes caricaturais e meio canastrões, para aos poucos tornar a situação mais e mais misteriosa e sinistra, distorcendo o conhecido e trabalhando em cima da degeneração emocional e psicológica daquelas pessoas que acabam eventualmente se vendo em uma situação extrema de abandono. Se não é difícil esperar conflitos interpessoais e morais graves de pessoas comuns nessa situação, a coisa vai além quando se trata de um grupo onde cada um é responsável por pelo menos alguma morte em seu passado.

A série foi claramente inspirada nas produções do Netflix e funciona muito mais numa maratona. Os primeiros episódios não têm nada de aterrorizantes e o clima demora para ser construído, mas, ainda assim, é bem feito e garante os sustos, que vêm da situação e ambientação: é um terror psicológico sem cenas preguiçosas de susto. Apesar de criar estranheza no começo, o elenco é forte e dá conta de diversas situações complexas, com destaque para Mariana Ximenes a partir da segunda metade.

Se no começo o roteiro dá ares pesados de pastiche e paródia de reality, pouco a pouco a identidade própria se revela. Além disso, tem o mérito de ter explicado as situações pelas quais os personagens vem a passar, no incrivelmente cinematográfico episódio 10, levando a um final que não deixa a desejar e dá a sensação de ter acabado a história da forma mais coerente possível com a própria mitologia.

A produção não é perfeita, tem alguns ruídos de narrativa, às vezes se perde no próprio ritmo, mas realiza um bom trabalho em humanizar aquelas pessoas, colocar o espectador em contato com assuntos espinhosos e o principal dentro do gênero: dar medo. Recomendo para quem tiver oportunidade de assistir.